segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Ao mar...

"Mergulhou de cabeça em ilusões.
Nadou contra a correnteza da exatidão.
Se aprofundou nos confins da mente alheia.
E perdeu o fôlego com o horror que viu."

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

A Fênix

"Me vi caindo do décimo terceiro andar de um prédio em chamas.
Caí ao chão sem sentir nada. Nenhum arranhão, nenhuma torsão, nem uma dor sequer.
Passado o choque inicial da queda, veio a excitação em cada célula do meu corpo, a vontade de correr dali.
Tomou conta e me inebriou.
Pássaros de fumaça e cinzas ao céu estrelado, gritos e pedidos de socorro se apagando.
Levantei e caminhei rapidamente, esquecendo o inferno do cenário catastrófico.
Cheguei em casa, joguei água no rosto, me joguei na cama.
Quando sentiria algo novamente? Queria sentir; queria, mas não podia.
Nem mesmo queimar como eles queimaram, nem mesmo o fogo ousava me tocar e destruir.
A mente em estado de frenesi,
títulos de Ginsberg e Rimbaud à cabeceira me observavam em expectativa.
Almas inquietas, que enxergavam em excesso, dom e maldição.
Notas de um velho blues vindo do boteco da esquina, ecoando pela rua.
Recapitulei meus demônios, meus heróis, meus anjos e meus mártires.
Anos, décadas, séculos, milênios em monstruosidade, volúpia, luxúria escarlate.
Havia sangue em minhas veias, sim... Mas era frio, era morto.
Então, tomei a decisão: daria cabo ao desespero.
Quem me tornei? De que matéria meu corpo era feito?
Eu, barbado que era, me permiti chorar como uma criança, pois mataria quem ou o que me tornei.
Buscaria o sonho de sentir.
Sentir a dor.
O ápice.
Queimar!
E por fim, renascer das cinzas do que fui
em algo novo e totalmente diferente.
Até o eterno ciclo se repetir."



sexta-feira, 18 de julho de 2014

Claustrofobia

         Acordei numa bela manhã de segunda-feira (se é que existe alguma beleza nesse dia maldito...), a dor de cabeça causada pelos excessos da noite anterior ainda pulsando. Ah, a ressaca, velha conhecida. Mas não havia arrependimento algum. Percebe-se que a noite foi boa quando a ressaca aparece, realmente.

        Liguei para o meu sócio, R. Afinal de contas, com ressaca ou sem ressaca, era um homem de negócios. Eram 9:00 e tinha uma reunião as 10 (confirmada), não poderia me atrasar. Pois então, vesti meu melhor terno, calcei meus sapatos importados, coloquei meu rolex de ouro no pulso, terminei de me arrumar e me olhei no espelho. Sorri, satisfeito comigo mesmo. Nem parecia que havia bebido tanto na noite passada. Iríamos fechar um grande negócio com uma empresa de renome hoje, e eu, como representante de nossos interesses, deveria estar elegante e impecável. Manter a classe, a pose, sempre.

        Lógico, mal sabiam eles a máscara que eu usava. Enquanto sorria e apertava as mãos daqueles desgraçados naquelas reuniões repletas de falsidade, só queria que eles se fodessem em suas mansões na França ou na puta que os pariu, e que aquele circo acabasse logo, pra poder me enfiar no primeiro clube de strippers que encontrasse. Odiava todos eles, até mesmo meus sócios (incluindo R.). O que me importava era a grana deles. Boa apresentação e simpatia eram pontes pra chegar até o meu objetivo final. Era tudo uma questão de... viver um personagem. E, diga-se de passagem, eu era um excelente ator.

        Depois de ter pego meu táxi de sempre, cheguei até o enorme prédio. Entrei, sorri e acenei a todos os bastardos que encontrei no caminho, e me encaminhei até a recepção. A recepcionista, loira com as raízes mal retocadas, tinha um sorriso forçado de dar dó. Parecia que o simples ato de sorrir lhe era doloroso.
- Bom dia, querida. Tenho uma reunião marcada com os representantes da empresa Stoner.
- Oh sim, bom dia, senhor S. Eles o aguardam no décimo primeiro andar, bloco 1, sala 7.
Dei uma piscadinha em agradecimento e me dirigi até o elevador mais próximo. Fiquei feliz em sair da presença daquela infeliz. Não precisou que eu apertasse o botão para chamar o elevador, lá estava ele... As portas se abriram e entrei. Olhei no meu caríssimo relógio. Vinte e cinco minutos para o início. Além de competente e elegante, eu era extremamente pontual.

       Estava tão absorto em pensamentos, que só então reparei... Não estava sozinho naquele elevador. Havia uma figura encapuzada ao meu lado. Parecia uma mulher franzina, ou uma criança, não sei dizer ao certo, leitor. Não via seu rosto. Só sabia de uma coisa: aquela figura não me agradou em nada. Aparentava fragilidade, e ao mesmo tempo era assustadora. O capuz preto da jaqueta moletom, a calça jeans e os tênis - cada pé com uma cor diferente -; tudo extremamente surrado e sujo. E fedia. Pelo céus, aquele ser, seja o que fosse, fedia como o inferno.

       Me afastei até o outro canto do elevador, até onde a distância era possível, com expressão de asco. A tal pessoa encapuzada nem sequer esboçou uma reação. Ficamos alí em silêncio, eu me perguntando como raios um prédio comercial daquele porte e classe permitira a entrada... daquilo. Até que, de súbito, o elevador deu um tranco, as luzes se apagaram e acederam e ele parou. É. Aquela porra de elevador parou!

       Imediatamente, apertei o botão de emergência. Nada, nem uma luzinha se acendeu pra indicar que a emergência foi acionada. Apertei mais uma, duas, três vezes. Nada, nada, nada! Comecei a suar. Merda. Num acesso de fúria, bati em todos os botões do painel. Como era de se esperar, nada ainda.

       Comecei a tremer. Um arrepio percorria meu corpo, da cabeça aos pés. Não queria ficar preso ali, não queria, não podia! Pensamentos desesperadores começaram a inundar minha mente: e se só nos achassem naquele local dias depois? E se o elevador (que havia parado no 7º andar) despencasse, podendo nos matar com o impacto? Tive vontade de gritar. Então, de súbito, lembrei da criatura a minha direita. Olhei pra ele (ou seria ela?), e para meu espanto, ainda se encontrava na mesma posição. Somente o peito, subindo e descendo ligeiramente numa respiração calma. Aquilo me deixou puto.

- EI, CARA! Tá dormindo, por um acaso? Estamos presos nessa joça!
Silêncio. Nem mesmo sua cabeça fez menção de se virar pra mim.
- Desgraçado, converse comigo! Não vê que estou entrando em desespero? Está gozando com a minha cara, é isso? Isso tudo é uma pegadinha, É ISSO?
Novamente, nada. Porra, isso era inacreditável. Minha respiração já ofegava de medo. Quando reparei, já estava chorando. Pensei que iria ter um ataque, ali mesmo. Me aproximei mais daquele ser. O fedor já não mais me incomodava.
- Seu filho da puta, me ajude, por favor! Você por um acaso é a porra de um bonec... - Toquei seu ombro, e de súbito ele olhou pra mim. Ou melhor dizendo, ela. Não pude terminar minha frase devido ao que vi...

       O horror daquela face era indizível. Putrefação, decomposição. Só consigo dizer que não haviam olhos naquele rosto, apenas dois buracos negros. Da carne podre onde deveria ser a pele de uma mulher jovem, saíam vermes. A carne pendia, caia.

       E aquela coisa (aquele mulher, morta ou o que for)... sorria!
       AQUILO SORRIA PRA MIM.

       Então, aconteceu. As paredes começaram a se mover, girar e girar e girar. Minhas pernas amoleceram. Senti a consciência me deixando aos poucos, como num sonho.

       Não sei por quanto tempo fiquei desmaiado. Sei apenas o que me contaram, depois que acordei no hospital. Disseram-me que os bombeiros haviam me achado naquele elevador depois de duas horas, e... bom, eu estava sozinho.

       Não havia mais ninguém ali.

terça-feira, 10 de junho de 2014

(Untitled Poem)


Três horas na madrugada
Conto os passos e piso somente no quadrado
Até a calçada da sua casa-

Parei e olhei pra sua janela
Observando, esperando...
Que você atendesse o meu chamado mental
Meu chamado de "vem cá, sou teu"
Mas você não vem, você nunca vem.

Nenhuma força telepática
Nenhuma força humana, sobrenatural, ou mágica
Traria você pra mim essa noite.

Olho pro relógio no meu pulso
Já cinco horas, quase amanhecer
O tempo passa e eu não vejo nada
Nessa eterna espera...

O torpor se vai.
Paro. Respiro. Acendo o cigarro.
Dou meia volta sem olhar pra trás.
Vou pra casa.
Sussurro um "eu te amo" que se vai com a fumaça
Esse é o ponto final dessa madrugada.






sexta-feira, 16 de maio de 2014

[OFF] Texto no Quase no Ponto!

               À todos os leitores e amigos: recentemente um conto meu foi publicado no blog Quase no Ponto! Blog do qual sou suspeita em elogiar, pois sou fã. rs Dêem uma passada lá e acompanhem, toda a equipe de escritores incríveis faz um trabalho magnífico. AMO!   
           
             Link para o texto inédito: "Natureza Selvagem".


             Beijos a todos e aguardem novidades. <3

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Fanfiction: Verde e Azul

Disclaimer: Nenhum personagem desta história me pertence, isso é apenas uma ficção de fã pra fã. Hannibal e as demais personagens aqui presentes são criações do autor Thomas Harris, portanto todos os direitos pertencem a ele e aos produtores dos filmes e da série baseados em suas obras.

N/A: Estava aqui eu, assistindo os filmes e a série sobre o Hannibal, e me bateu uma loucura de escrever uma fanfic sobre! huahuahua Espero que gostem. (:

Aviso ¹: Fanfic levemente AU (Alternative Universe) quanto aos livros, filmes e séries, pois Clarice e Will não se conheceram (que eu me lembre, se estiver errada me corrijam, por favor), quanto mais trabalharam juntos no caso Estripador de Chesapeake. Porém, não mudarei as personalidades das personagens (nem Hannibal, nem Clarice, nem Will).

Aviso ²: Quanto a descrição física dos personagens, imaginem o Hannibal da série (interpretado pelo Mads Mikkelsen, apesar de eu amar atuação épica do Hopkins nos filmes, mas nesse caso se encaixa um Hannibal mais... jovem), o Will também da série (interpretado pelo fofo do Hugh Dancy; novamente, apesar de eu amar a atuação do Edward Norton em "Dragão Vermelho") e a Clarice de "O Silêncio dos Inocentes" (interpretada pela lindíssima Jodie Foster).

Aviso ³: Contém slash (homem com homem, de leve), insinuações de sexo, violência, canibalismo e morte. Portanto, se você é sensível a esses assuntos, aconselho a fechar a aba... AGORA! ;)

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Eram 8:30 pm de um sábado. Dr. Lecter estava sentado confortavelmente em sua cela altamente vigiada no Hospital Forense de Baltimore. Completava seu primeiro ano de prisão, após desfecho do caso "Estripador de Chesapeake", pelas mãos dos brilhantes Graham e Starling. Caso no qual, aliás, ele mesmo estava envolvido no solucionamento e... qual não foi a surpresa das suas marionetes de olhos verdes e azuis ao descobrirem que o próprio era o estripador? Foi divertidíssimo, foi sim; ele lembrava, perdido em divagações. Principalmente quando descobriram seu gosto culinário... peculiar. Os olhares de horror e asco (adoráveis, por sinal) de Clarice e Will, ele nunca esqueceria. Aliás, seu pensamento sempre estava com os dois. Não com suas vítimas, não; suas vítimas eram rudes, e pouco o importavam. Todos eram rudes, com exceção de Will e Clarice. Ambos o tratavam com respeito, mesmo após todo o horror. Ousava até dizer que ambos o entendiam, em seu íntimo, por mais que suas morais os fizessem negar. Ambos, Clarice e Will eram iguais a ele... e Hannibal sempre soube disso, desde o momento que colocou seus olhos em cada um deles.

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Will Graham

Olhos... Pois então, eram os olhos o que mais o encantava em ambos. Os de Will, por exemplo, eram de um verde intenso, sincero, obstinado... Quando Hannibal o conheceu, tendo-o estritamente como paciente e parceiro forense a mando de Jack, os olhos verdes do rapaz eram confusos e amedrontados. Will era alguém como uma visão especial, alguém que enxergava muito além do que todos que Hannibal já havia conhecido em toda sua prestigiada carreira como psiquiatra. No início, o rapaz não compreendia o quão especial era, ou compreendia mas tinha medo de aceitar. Tudo o que o Dr. Lecter queria era ajudá-lo a aceitar isso... E passear pela mente de Will o fascinava, assim como confundi-lo em seu joguinho de "gato e rato". Mas ele sabia o quão Will era inteligente, e o admirava por isso. Portanto, jamais o subestimou e sempre soube que uma hora ou outra ele iria descobrir. Cedo ou tarde, ele iria descobrir. Enquanto isso não acontecia, Hannibal entrava mais e mais em sua mente. Se tornaram grandes amigos e, secretamente, amantes. Adorava o cheiro peculiar do Graham, os beijos sedentos, as carícias (por vezes, violentas) que ambos trocavam no escritório do Dr. Lecter, adorava mordê-lo e marcá-lo como seu. Seu Will. Outra coisa que adorava era o quanto aqueles olhos verdes o olhavam admirados e intrigados ao mesmo tempo. Hannibal sempre foi um mistério para Will, ele sabia; da mesma forma que a mente e o corpo de Will eram uma diversão e tanto para ele.

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Clarice Starling

Ah, Clarice... A jovem que ele conheceu, um frágil cordeirinho querendo ser policial. Mas mesmo quando ainda era uma aluna bonita e bobinha de Will, Hannibal já enxergava o que havia de oculto naqueles límpidos olhos azuis. Debaixo de tanta fragilidade aparente, Clarice era uma caçadora. Seus olhos exibiam uma coragem oculta, uma vontade quase predatória de ultrapassar seus limites. Era verdadeira e corajosa, e no seu íntimo, era igual a ele e Will. Claro, não tinha a percepção absurda do rapaz de olhos verdes, mas tinha um talento nato, um sexto sentido lindo de se ver em ação. Mas ela se desmerecia. Não acreditava em si mesma, usando seu escudo de fragilidade como uma máscara. Novamente, assim como trabalhou em Will, Hannibal foi lapidar essa joia rara. E se envolveu num jogo de instigar a mente de moça, ao mesmo tempo em que a seduzia. Depois de um tempo, assim como Will, Clarice era sua. Sua Clarice. Sua pele branca e macia, que tão graciosamente ficava marcada de vermelho após os encontros furtivos. Os beijos, que começavam calmos e terminavam lascivos. Os gemidos abafados, o cheiro doce que exalava do cabelo dela... E os olhares longos e, também intrigados, que aqueles olhos azuis lançavam a ele. Pois ele, Hannibal, também era um desafio a ela.

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A Fuga

Depois que saiu de suas lembranças e divagações, o Dr. Lecter recortou a reportagem do jornal e a foto dos famosos agentes especiais de mãos dadas, como se fossem um casal de estrelas de Hollywood flagrados por papparazzis, e guardou no bolso do uniforme de paciente/detento. O fato dele apreciá-los e ser um tanto quanto possessivo, de nada tinha haver com amor. Hannibal concordava que não havia nome para o tipo de psicopata que ele era, portanto sabia que "amor" era uma palavra que não existia em seu vocabulário (não depois de ter perdido a pequena Mischa¹ a tantos e tantos anos atrás). Então, era essa a definição correta: possessividade. Hannibal tinha posse de ambos, sim, como seus "animaizinhos"; e ambos não poderiam ter posse um do outro. Não enquanto ele existisse.

Estava decidido: essa noite, o Dr. Lecter iria jantar fora, e rever antigas cores. O verde intenso de Will, o azul límpido de Clarice... e o vermelho vivo do sangue de ambos.

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¹: Não sabe quem foi a Mischa? Assista ou leia "Hannibal: A Origem do Mal". rs

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Promessa de Ano Novo

         Era noite de ano novo, e a jovem N. estava sentada sozinha em casa. Acabara de chegar do trabalho, um fast food em um grande shopping center. Havia anos, não comemorava o ano novo. Não tinha amigos ou namorado. Seus únicos parentes vivos só a visitavam se alguma desgraça acontecia. Não saia de casa, não tinha grandes expectativas em sua vida monótona e solitária. Vivia do trabalho e só pra ele vivia.
        Mas ela não ligava pra isso. Afinal de contas, estava acomodada naquela vidinha. Quem precisa de pessoas quando se tem televisão, computador, moto, e uma casa enorme? Pff...
        Só uma coisa conseguia incomodá-la. Quando essa maldita época chegava. Ah, a época da "união", em que as pessoas se tornavam (ainda mais) insuportávelmente alegres e comemorativas. Era a única data que fazia N. repensar o sentido de sua vida, o que fizera até então. Então, sentia um aperto no peito ao pensar que seus únicos feitos em mais aquele ano foram apenas materiais ou profissionais. Um celular de última geração, as roupas da moda, ser a funcionária do mês em 8 dos 12 meses do ano, ser promovida... Mal se lembrava como era ser beijada, abraçada por um ente querido ou um amigo, construir um laço afetivo...
       Mas aquele ano iria ser diferente. Enquanto todos faziam listas e listas de promessas pra 2014, N. só tinha uma promessa a fazer.

       Iria VIVER. No mais pleno sentido da palavra.

       (Há exatos 4 anos, todo dia 31 de dezembro às 23:59, N. faz para si a mesma promessa.)